Mitigar o Sofrimento de um Cão Acorrentado
Lutar por minorar o terrível sofrimento dos animais acorrentados é um exercício de cidadania numa sociedade que se pretende justa e solidária. Há muitas pessoas que se preocupam com estes animais, mas nunca tentaram intervir. Contudo, é urgente que todos nos envolvamos. A vida de muitos cães mudou radicalmente, simplesmente porque alguém se preocupou o suficiente para intervir.
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Sensibilizar os Responsáveis Pelo Cão
Quem tem um animal acorrentado fá-lo muitas vezes por ignorância ou porque é tradição ou costume, e não por nenhum requinte de malvadez. Muitas pessoas desconhecem a necessidade de interacção social dos cães e que os animais sofrem quando são maltratados ou vêem os seus instintos naturais frustrados, outras pessoas cresceram a ver os pais e os vizinhos com cães acorrentados e nunca questionaram essa prática.
Ao abordar uma pessoa que mantém um cão acorrentado, não devemos ter uma atitude de confronto, pois daí não resultará nada de positivo para o animal. Devemos tentar compreender essa pessoa e os motivos que a levam a manter o animal naquelas condições, enquanto lhe perguntamos algo sobre o animal e ao mesmo tempo lhe sugerimos amigavelmente formas de melhorar as condições em que o cão se encontra. Uma forma simples de abordagem pode ser oferecer uns biscoitos de cão, dizendo algo do género «Trago no bolso alguns biscoitos do meu cão, posso oferecer um ao seu?».
Uma das justificações mais comuns para se ter um cão acorrentado é o intuito de o cão servir de guarda à casa ou dar sinal de perigo. Podemos explicar à pessoa que seria mais eficaz ter o cão dentro de casa, juntamente com a família. Na verdade, estando acorrentado, o cão não pode fazer nada para impedir que estranhos entrem dentro de casa, a não ser ladrar. Mas, como normalmente um cão acorrentado ladra por tudo e por nada, já ninguém liga… Além disso, a realidade é que um cão acorrentado está completamente indefeso e pode facilmente ser envenenado ou ser vítima de outro tipo de ataque. Em contrapartida, estando dentro de casa, o cão consegue avisar sobre potenciais perigos de forma muito mais eficaz e o factor surpresa joga contra potenciais intrusos, os quais não sabem o que os espera para lá da porta (sem contacto visual, os potenciais intrusos não conseguem saber o porte nem a quantidade de animais no interior). Ter um cão dentro de casa é verdadeiramente um factor dissuasor — ao ouvir um cão a ladrar do lado de dentro da casa, é muito provável que o assaltante desista do alvo, pois a preferência vai sempre para os alvos mais fáceis e sem surpresas.
Outro motivo comum para se ter um animal acorrentado é simplesmente o de evitar que o cão fuja. Muitas destas pessoas têm a intenção genuína de proteger o animal, mas não se apercebem das implicações de mantê-lo acorrentado. Nestes casos, podemos tentar explicar algumas características dos cães e como estes sofrem profundamente com o isolamento e a restrição de movimentos que estar acorrentado significa, e podemos sugerir que façam um espaço vedado ou que aumentem a altura da vedação existente para o cão poder andar à vontade.
Noutros casos, as pessoas “desistem” dos animais e acorrentam-nos, porque ficam frustradas com comportamentos indesejados (urinar dentro de casa, estragar o sofá, saltar às pessoas). Contudo, a maioria destas situações são facilmente resolúveis ou minoradas com educação canina ou com a esterilização do animal. Procure informar a pessoa acerca destas possibilidades. Contudo, parte destas pessoas perdeu mesmo por completo o interesse no animal e não se importaria de o dar para adopção. Nesses casos, podemos tentar explorar essa possibilidade, falando no assunto da adopção à pessoa e procurando um adoptante responsável para o animal.
Desde que sejamos simpáticos e não entremos em confronto (de modo a evitar qualquer reacção negativa que possa piorar a situação), por bem do cão, vale sempre a pena falar com os responsáveis por um animal acorrentado no sentido de tentar melhorar a vida dele.
Melhorar as Condições de Um Cão Acorrentado
A principal melhoria na vida de um cão acorrentado é deixar de estar acorrentado (passando a viver dentro de casa ou ficando no exterior protegido por uma vedação). Contudo, isso nem sempre é possível e, nesses casos, mais vale alguma pequena melhoria no sentido de oferecer maior conforto e dignidade ao animal do que ficar tudo na mesma…
Possíveis melhorias incluem:
- Substituir diariamente a água do bebedouro, por forma a mantê-la sempre limpa e fresca.
- Oferecer regularmente alimentação adequada (2 ou 3 vezes por dia) e manter o comedouro limpo.
- Substituir uma corrente pesada por uma corrente resistente em material leve (com interior em cabo de aço) com vários metros de comprimento.
- Substituir a corrente por um sistema de trela presa por uma roldana a um cabo esticado, o que permite maior facilidade de movimento.
- Substituir a casota por uma de maiores dimensões e que proteja adequadamente da chuva, frio e calor.
- Oferecer regularmente alguma atenção ao cão e interagir com ele, por exemplo, com alguma brincadeira.
- No Inverno, colocar palha dentro da casota para manter o interior mais quente.
- No Verão, certificar-se de que o cão pode descansar à sombra (sombra de uma árvore, lona ou guarda-sol).
- Substituir a coleira por um peitoral resistente.
- Oferecer brinquedos resistentes, comedouros higiénicos (por exemplo, em aço inoxidável) e recipientes de grandes dimensões para água.
Folheto de Sensibilização “Liberta-me”
O folheto “Liberta-me” destina-se a sensibilizar pessoas que mantêm cães acorrentados. Clique na imagem abaixo para consultar o folheto em formato PDF.
O folheto é disponibilizado gratuitamente a quem estiver empenhado em ajudar os cães acorrentados. Para saber como obter o folheto, contacte-nos (envio apenas para Portugal).